Ana Mari's world!

Leia livre de preconceitos, intensões e expectativas.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Coisa

Lá o sol não aquece, arde... A água não chega e não molha. O frio é triste e corta. A luz se faz escassa com o por do sol e a eletricidade é sonho de consumo.

Há cólera no ar. Há também muita esperança misturada com conformismo.

Lá parece que as coisas nunca vão chegar, na verdade parecem que nunca chegaram... As visitas são continuas, um entra e sai, não pára nunca, não há trancas... Eles sorriem e eu me pergunto: como conseguem? São hospitaleiros, carentes e baratos.

Com minha câmera na mão eu ganho o carinho e a desconfiança de todos eles. Lá eu sou tia, eu sou um pedaço de carne disputado e carregado como troféu... Eles querem abraçar, sentar no colo, brincar e saber como é a casa onde eu moro...

É muito triste pensar na casa onde eu moro quando percebo que ali ninguém tomou banho ainda, porque está muito frio e não há água encanada e muito menos quente... Servem-me um café ralo, mas cheio de boa vontade e suor de um salário mínimo.

O meio fio público é extensão de suas “residências”. Andam descalçados como se estivessem na sala de suas casas, se sala em suas casas tivessem, mas o descalçar não se dá por capricho ou conforto e sim por o calçado não existir.

Corta-me o coração ao dar as costas pra um barraco de aglomerado e deixar pra trás muitas lágrimas que eu com apenas um click conquistei e na certeza de que nunca mais irei vê-los pelas adversidades da vida e do mundo. Tento ser fria e agradeço por ter conseguido sair viva de mais um dia doido e dentro do carro no caminho de casa, iluminada pelas luzes de uma via expressa qualquer dessa desvairada, vou olhando lentamente imagem por imagem e pensando na loucura que é o mundo, que loucura é ser um ser vivo, que loucura é saber que muitos deles nunca vão saber de muitas coisas e que a realidade daqueles não vão muito além de uma cerveja na venda ao lado e um ovo colorido.

Aqui vos fala uma eterna lamúria que ouve “Am I the Same Girl”, enquanto reaviva, relata e “ilustra” porcamente a depressão do submundo de um micro ponto no mundo desfavorecido de vida vivida. Eles me perguntariam: “tia o quê é vida vivida?”, creio eu que como agora meus olhos ficariam mareados o silêncio falaria por mim e eu daria um grande abraço.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tô gostando de ver Mari, atualizando todo o dia, com textos bacanas... Legal, legal... Não vou elogiar muito porque senão você logo desanda... Linda, não chora não, o mundo é mais colorido do que você pensa (e eu também).
beijão.